sexta-feira, 8 de novembro de 2019

Clepsydra


Clepsydra
Camilo Pessanha
Editora Colóquio de Letras
Lisboa
2000
Tombo: 2053







Clepsydra, de Camilo Pessanha – a obra máxima do simbolismo português – escrita em Macau, publicada pela primeira vez em 1920, teve edições marcantes, entre elas, a preparada pelo brasileiro Paulo Franchetti (1995) e até uma edição bilíngue em português e sua versão em chinês, pelo trabalho tradutório de Chen Yongyi, com apresentação crítica de Daniel Pires (1997). A edição em que nos baseamos aqui é a edição preparada por Gustavo Rubin (2000).
Enquanto Daniel Pires apresenta um maior número de poesias, alocando primeiramente os sonetos para, em seguida, tomar as demais formas poéticas, a edição de Gustavo Rubin difere das demais por razões fundamentadas. Rubin apresenta a seleção de poesias em uma ordem pré-determinada, eis que entende serem aquelas poesias e aquela ordem indicadas pelo autor para compor sua Clepsydra, com clara determinação de seu início e fim. Este entende que as demais poesias de Camilo não compõem propriamente a Clepsydra. Eis por que João de Castro Osório e Bárbara Spaggiari, em suas edições, fizeram constar o subtítulo “e outros poemas”.
Clepsydra, na edição analisada, apresenta 37 poemas, sendo 17 sonetos. Alguns poemas estão indicados por títulos próprios e outros a referência é feita à moda da literatura clássica chinesa, ou seja, toma-se a primeira estrofe como referência para nominá-lo. Assim, Clepsydra inicia com poema intitulado “Inscrição” e lhe seguem dois sonetos sem título, mas referidos pelas estrofes “Desce enfim sobre meu coração” e “Tatuagens complicadas do meu peito”.
O título Clepsydra revela-se, em princípio, enigmático eis que aparece apenas no título e no poema final: “escutando o correr da água na clepsidra”. Alguns estudiosos ligam o título ao poema “L’horloge”, de Baldelaire, sem, contudo, trazer argumentos inafastáveis. Por outro lado, cientes da plausível influência do mundo chinês sobre a obra de Camilo Pessanha, há de se pensar em explicações viáveis de que os relógios provenientes do ocidente eram uma das poucas mercadorias que podiam realmente interessar às autoridades chinesas durante séculos. Sem dúvida, os autômatos – como eram chamadas essas maravilhosas máquinas de contavam as horas – fascinavam os chineses, como aliás revelam o impressionante acervo de relógios ofertados aos imperadores chineses por várias embaixadas de países ocidentais. Se assim não fosse, a constante referência a “caminhos” e a qualidade “fugidia” conduziria bons argumentos para nomear e identificar a obra de Pessanha ou como “Caminhos” ou “Fugidia”.

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