Camilo
Pessanha
Editora Colóquio
de Letras
Lisboa
2000
Tombo: 2053
Clepsydra, de
Camilo Pessanha – a obra máxima do simbolismo português – escrita em Macau,
publicada pela primeira vez em 1920, teve edições marcantes, entre elas, a
preparada pelo brasileiro Paulo Franchetti (1995) e até uma edição bilíngue em
português e sua versão em chinês, pelo trabalho tradutório de Chen Yongyi, com
apresentação crítica de Daniel Pires (1997). A edição em que nos baseamos aqui
é a edição preparada por Gustavo Rubin (2000).
Enquanto
Daniel Pires apresenta um maior número de poesias, alocando primeiramente os
sonetos para, em seguida, tomar as demais formas poéticas, a edição de Gustavo
Rubin difere das demais por razões fundamentadas. Rubin apresenta a seleção de
poesias em uma ordem pré-determinada, eis que entende serem aquelas poesias e
aquela ordem indicadas pelo autor para compor sua Clepsydra, com clara
determinação de seu início e fim. Este entende que as demais poesias de Camilo
não compõem propriamente a Clepsydra. Eis por que João de Castro Osório e
Bárbara Spaggiari, em suas edições, fizeram constar o subtítulo “e outros
poemas”.
Clepsydra,
na edição analisada, apresenta 37 poemas, sendo 17 sonetos. Alguns poemas estão
indicados por títulos próprios e outros a referência é feita à moda da
literatura clássica chinesa, ou seja, toma-se a primeira estrofe como
referência para nominá-lo. Assim, Clepsydra inicia com poema intitulado
“Inscrição” e lhe seguem dois sonetos sem título, mas referidos pelas estrofes
“Desce enfim sobre meu coração” e “Tatuagens complicadas do meu peito”.
O
título Clepsydra revela-se, em princípio, enigmático eis que aparece apenas no
título e no poema final: “escutando o correr da água na clepsidra”. Alguns
estudiosos ligam o título ao poema “L’horloge”, de Baldelaire, sem, contudo,
trazer argumentos inafastáveis. Por outro lado, cientes da plausível influência
do mundo chinês sobre a obra de Camilo Pessanha, há de se pensar em explicações
viáveis de que os relógios provenientes do ocidente eram uma das poucas
mercadorias que podiam realmente interessar às autoridades chinesas durante
séculos. Sem dúvida, os autômatos – como eram chamadas essas maravilhosas
máquinas de contavam as horas – fascinavam os chineses, como aliás revelam o
impressionante acervo de relógios ofertados aos imperadores chineses por várias
embaixadas de países ocidentais. Se assim não fosse, a constante referência a
“caminhos” e a qualidade “fugidia” conduziria bons argumentos para nomear e
identificar a obra de Pessanha ou como “Caminhos” ou “Fugidia”.
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